Cantigas de amigo

01/06/2013 14:41

Características das cantigas de amigo

 

 

São cantigas de origem popular, com marcas evidentes da literatura oral (reiterações, paralelismo, refrão, estribilho), recursos esses próprios dos textos para serem cantados e que propiciam facilidade na memorização. Esses recursos são utilizados, ainda hoje, nas canções populares.

Este tipo de cantiga, que não surgiu em Provença como as outras, teve suas origens na Península Ibérica. Nela, o eu-lírico é uma mulher (mas o autor era masculino, devido à sociedade feudal e o restrito acesso ao conhecimento da época), que canta seu amor pelo amigo (amigo = namorado), muitas vezes em ambiente natural, e muitas vezes também em diálogo com sua mãe ou suas amigas. A figura feminina que as cantigas de amigo desenham é, pois, a da jovem que se inicia no universo do amor, por vezes lamentando a ausência do amado, por vezes cantando a sua alegria pelo próximo encontro. 

O sujeito poético é, não apenas mulher, mas donzela, isto é, uma rapariga solteira, pertencente aos estratos médios do povo. As Cantigas de Amigo são sempre um desabafo de uma donzela. Este desabafo da rapariga é feito à mãe, à irmã mais velha, à amiga, a um cavaleiro (mais raro), à natureza (antropomorfismo) e aos santos de sua devoção.

 

O poeta serve-se assim deste artifício para exprimir os seus sentimentos pela boca da rapariga. Por isso se diz que as Cantigas de Amigo são um pouco artificiais. Essas cantigas documentam bem a importância social da mulher, que era, na época, o garante da estabilidade familiar, dado que os homens tinham que se ausentar frequentemente, envolvidos nas campanhas militares de defesa e ataque que opunham cristãos e mouros.

A donzela aparece-nos inserida num ambiente doméstico e burguês, muitas vezes em diálogo com as amigas e a própria mãe e as cantigas documentam todas as fases e sentimentos do namoro.

natureza não é um simples cenário em que decorre a acção; apresenta uma espécie de vida própria, que documenta o animismo típico de sociedades mais primitivas. É sempre uma espécie de testemunha viva das alegrias e tristezas da donzela. Por vezes a sua personificação é total, como por exemplo na famosa cantiga “Ai flores, ai flores do verde pino”, onde as flores respondem e tranquilizam a donzela, saudosa e preocupada com a ausência do amigo. Essa natureza é frequentemente representada pela fonte, o rio, a praia, o campo.

A atestar a antiguidade deste tipo de cantigas temos os arcaísmos que os trovadores conservaram, provavelmente porque tomavam do povo anónimo temas e versos inteiros que depois desenvolviam.

 

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